quinta-feira, outubro 27, 2005

Um Zorro tri família



“A Lenda do Zorro”, de Martin Campbell, traz tudo aquilo que a gente espera de um filme de ação com um personagem muito conhecido. Tem ação, tem risada, tem suspense, tem o cara mau, o cara pior, o feio, tem efeito especial, tem explosões, tudo que é necessário para alegrar uma tarde de sábado ou de domingo. É filme para sessão lotada de crianças, berrando o tempo inteiro, torcendo para o Zorro, o herói que quer fazer justiça e resgatar a sua amada.
Mas até parece que estou falando de um velho Zorro, que via quando criança em uma tevê preto e branco, aos sábados, ao lado do meu avô, que ria toda a vez que o herói deixava sua marca na barriga do gordo Sargento Garcia. Aquele Zorro, interpretado por Guy Williams entre 1957 e 1959, é eterno em nossas lembranças.
Douglas Fairbanks foi o primeiro a interpretar o Zorro, ainda no começo do século passado, e o reconhecimento foi imediato. Muitos que lêem esta critica poderão perguntar ao seu avô se ele não viu uma sessão de matinê com esse herói encapuzado. O filme de 1920 fez um sucesso tamanho que influenciou outro personagem. O Bruce Wayne, o dos quadrinhos e não o do cinema, sofre um abalo, a perda dos pais, após sair do cinema onde vira a “Marca do Zorro”. O maior mérito do ator era o fato de ser excelente atleta e ter uma destreza incomum no meio. Talvez só Errol Flynn, já nos anos 40, tivesse a mesma agilidade.
E Antônio Banderas surpreende com tamanha desenvoltura para fazer acrobacias. E não são poucas. Claro que a maioria é feita por dublês, mas mesmo assim Banderas tem que estar fisicamente muito bem preparado para interpretar um personagem que exige muito do corpo. Aliás, um dos dubles é o brasileiro Dino Frenkiel dos Santos, que dubla Bandeiras há algum tempo.
Já a linda Catherine Zeta-Jones está mais contida que o filme anterior “A Máscara do Zorro”, porém ela tem tempo para esbofetear alguns capangas, mostrar sua agilidade, entrar em quartos fechados e até fumar cachimbo. Contudo, cada vez que ela aparece a tela fica mais bonita, tamanha é a sua beleza nesta produção.
O filme resgata ao máximo elementos da série com Guy Williams, utilizando a “noite americana”, muitas cenas com o cavalo Tornado, que é muito engraçado. E outro destaque é o pequeno Joaquin (Adrian Alonso), o filho que desconhece o “trabalho” do pai e que tem no Zorro o seu verdadeiro herói.
Enfim, o filme “A Lenda de Zorro”, produzido por Steven Spielberg, é para agradar a família, como deveriam ser a maioria dos filmes de herói mascarado. Afinal, até o Zorro se preocupa com a sua. Ou não?

segunda-feira, outubro 24, 2005

Puskas, o craque que não vi jogar


Tive a oportunidade de ler "Puskas, uma lenda do futebol", a biografia de Ferenc Puskas, o Major Galopante ou Canhãozinho Pum Pum, um dos maiores craques do futebol mundial, que jogou nos anos 40, 50 e 60. O "irmãozinho", como chamavam os húngaros, começou a jogar bola no time perto de sua casa, o Kispest, que depois virou Honved, sendo treinado por seu pai, um ex-jogador do clube, mas sem muito talento. Sua amizade com outro grande craque húngaro, Kocsis, começou cedo, já que eram vizinhos de apartamento. O futebol era simples para Puskas, era sua alegria primordial. Bastavam cinco minutos para ele descobrir os pontos fracos dos adversários e mudar o jogo a seu favor. A Seleção Húngura, que dominou o mundo pós-guerra, não conseguiu conquistar uma Copa Jules Rimet, já que só disputou a Copa de 54 e perdeu a final para a Alemanha. Mas conseguiu vencer uma Olimpíada, a de 52 em Helsinque. Também foi a primeira seleção do mundo a derrotar a seleção inglesa dentro da Inglaterra e por 6 x 3. E depois de seis meses, a Hungria meteu 7 x 1 jogando em Budapeste. Os hungaros inventaram o 4-2-4, sistema de jogo que suplantou o WM que a Inglaterra implementou entre as grandes guerras. Mas foram os brasileiros que conseguiram consagrar esse estilo de futebol, com uma geração de notáveis que incluia Djalma Dias, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo, apesar da batalha de Berna, em 54, quando húngaros e brasileiros saíram aos tapas, garrafadas e chuteiradas, durante e após a partida vencida pelos magiares. Foi o húngaro Lazlo Zsekely que implantou o sistema no Grêmio, mas foi Foguinho que ficou famoso por esse feito (mas isso é outra história).
O Major Galopante fugiu da Hungria em 1956, visitou o Brasil, tentou jogar na Itália, apesar da proibição da Fifa, mas conseguiu se estabelecer no Real Madrid, onde formou um dos melhores times do século, ao lado do uruguaio Santamaria, dos espanhóis Del Sol e Gento, do francês Kopa, do argentino Di Stefano e do brasileiro Didi. Foi campeão do mundo mas nunca enfrentou o Santos de Pelé. Vestiu a camisa da seleção espanhola, porém estava um tanto velho na Copa do Chile, em 1962, e não conseguiu classificar a Fúria para a segunda fase. É um livro muito interessante porque o autor, o inglês Rogan Taylor, fez uma pesquisa histórica para desvendar o sistema político húngaro, a revolução, o domínio russo e suas influências no futebol.
Dá uma pena enorme que dê para ver poucas coisas antigas em vídeo ou dvd. Há alguns anos atrás, antes da Copa da França, vi uma série de filmes oficiais das Copas, mas não gravei. Parece que a Placar lançou tudo em dvd, mas não tenho certeza. São filmes que devem ser revistos, mesmo que eles não contenham todos os jogos ou partidas inteiras. É sempre bom ver os craques que não conseguimos ver por nascer em época que eles não mais jogavam, ou mesmo ler suas biografias, como essa.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Aniversário em família

Uma das tradições da minha família, que é grande, é reunir a maior quantidade possível de parentes para comemorar os aniversários mais importantes e os natais. No 87º aniversário da vó Lila (esse é o nome dela mesmo), no último dia 15, aproveitamos para comemorar o 50º aniversáriodo tio Renato, o mais moço dos tios, e todos os aniversariantes do mês. Aproveitamos a ocasião para lembrar que o vô Alfredo, caso fosse vivo, estaria comemorando seu centenário (...fazem votos que vá ao centenário, os amigos sinceros...). E a família comemora fazendo apresentações, para o nosso próprio deleite e dos convidados, mostrando as habilidades artísticas de todos.
E na apresentação vimos alguns primos mostrando talentos que desconhecíamos. A Tatiana Barcellos dançou belissimamente a Dança do Ventre. A outra dançarina foi a Débora Nunes, que deixou o pai Ronaldo de cabelos em pé, os da nuca, é claro. Guilherme, o irmão da Débora, também é um excelente violonista. As tias Neiva, Neíta e Noedi mostraram as pernas na dança que representava o Moulin Rouge. O Fernando, filho da tia Neiva, foi o showman da noite. Dançou, dublou, representou e tocou guitarra. Ele participou da apresentação do cabaré francês e criou uma peça imitando o filme "Escola de rock", na qual as meninas do "brou" Rodrigo (Luíza, Juliana e Isabela), a Karol (filha da mana Nil), a minha Luana, o Gianluca e o irmão (filhos do primo Gérson), a Andressa e o Andrei (filhos da prima Tânia) participaram com extrema alegria e desenvoltura. O tio Ademir conseguiu um fato inédito: foi o "mala" da peça teatral. Não é à toa que sustenta tal apelido.
Eu e o Gérson ficamos só tirando sarro de todo mundo, lembrando uma outra ocasião em que ficamos do lado de fora, à janela, junto do inesquecível Leco Alves e do Rodrigo, fazendo a mesma estrepolia. Claro que desta vez, já mais velhos, o sarro era em voz baixa e recatada, e não aos berros como da outra vez.
Sentimos a falta dos que faltaram, como o Rafael (que está na Alemanha), do Bruno (que ficou em Brasília trabalhando), da Carla e do Milton e da minha amada Patrícia (que estava indisposta). Mas já estamos prontos para comemorar os 90 anos da nossa progenitora, quando eu e o Gérson vamos apresentar imitações do Ney Matogrosso e do Sidney Magal. Vamos esperar para ver.

segunda-feira, outubro 10, 2005

A casa da infância

Vi, outro dia, um poema em um ônibus que tratava da casa da infância. Era um poema do Sérgio Napp, bonito por sinal. E parei para pensar das casas em que morei quando era criança. A primeira foi no Morro Santa Teresa, um casebre no fundo do quintal do tio Zé, que é irmão da vó Lila. De lá não lembro nada, porque vive pouco mais de um ano. Logo em seguida, o pai foi para a única casa que a família teve em mais de 50 anos, a casa do bisavô José Machado, que fica na rua Damasco, no bairro Azenha. Pouca coisa tenho guardado na memória. Lembro de ter deixado cair um paralelepípedo no dedo indicador da mão direita, que por sinal é maior que o da mão esquerda. O tal paralelepípedo era parte integrante da nossa churrasqueira, que eu quis arredar para poder jogar bola com meu irmão Rodrigo. Também recordo quando a minha maninha nasceu e quiseram colocar brincos em sua orelha e ela chorou muito. A malvada era a tia Neíta, sua madrinha, que me deixou furioso por judiar da pequena Nilmara.
Logo em seguida, ainda naquele ano de 1972, nos mudamos para a Glória, uma linda casa de dois andares. A vó Lila, o vô Alfredo, a tia Neiva, o tio Renato, o dindo Zé Roberto e a tia Rejane moravam na parte superior e nós embaixo. As memórias são mais fortes nesse período. Os parreirais, as bananas, o bergamoteiro, o pé de café, a garagem, a tela que separava os pátios, o sofá de tijolos e espuma feito pelo pai, a cadela Rosita e seus filhotes, tudo me vem fácil à lembrança. Lembro de jogar fora o arroz de leite da vó Lila, que até hoje não gosto, de trocar os canais da tevê enquanto fazia companhia para o vô e ouvir suas reclamações, já que ele não podia se levantar da cadeira porque sofria de Mal de Parkinson. Também sonhava que voava tal qual a pipa que meu pai um dia fez e que sumiu nos céus, entre as nuvens. A ida para o Colégio da Glória, com minha madrinha, para freqüentar o Jardim de Infância. E no ano seguinte, 1974, quando o pai já procurava outra casa para morar, ia para a Escola Estadual Fernando Ferrari, no Cristal, acompanhado de uma namorado do dindo que se chamava Rosa. Também fiquei por um tempo, nesse ano, morando com uma colega da mãe, a Edite, que morava muito próxima ao colégio, sendo levado por uma de suas filhas, a Adriana, todos os dias à escola. Mas não gostava muito, sentia a falta de meus irmãos.
A casa no Cristal não aconteceu. Só depois que me casei que o pai foi morar naquela redondeza, quando casou com a Angela. Então fomos para a rua Domingos Crescêncio, no bairro Santana, quase ao lado da igreja São Francisco, a verdadeira casa da minha infância. Lá vivi de 1974 até 1983, dos 6 e uns quebrados aos 15 anos. Nove anos memoráveis, que daria um livro de tantas aventuras. Talvez um dia eu o escreva, quando tiver necessidade de rever o meu passado.

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