quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Vivendo sem sair do armário


Há mais de 15 anos, pouco depois de o Partido dos Trabalhadores conquistar a Prefeitura de Porto Alegre, alguns jovens cartunistas criaram uma revista em quadrinhos, a Dum-Dum, que recebeu incentivo da Secretaria de Cultura municipal. A revista tratava sobre vários temas, inclusive sobre abuso sexual, ora por parte da Polícia, ora por parte de fazendeiros que preferiam a zoofilia, o que causou grande constrangimento para a prefeitura na época. O autor das histórias era um jovem chamado Adão Iturrusgarai. O que isso tem a ver com “O segredo de Brokeback Mountain”, filme de Ang Lee, que estréia dia 3 de fevereiro na Capital dos gaúchos? Acontece que o Adão Iturrusgarai criou dois personagens que ficaram famosos no Brasil, Rocky e Hudson, os caubóis gays.
O filme do cineasta chinês é um romance dramático em que o cowboy Jack Twist (Jake Gyllenhaal, o filho de Dennis Quaid em “O dia depois de amanhã”) conhece Ennie Del Mar (Heath Ledger, de “10 coisa que eu odeio em você” e “Irmãos Grimm”), também cowboy, quando são contratados por Joe Aguirre (Randy Quaid) para pastorear ovelhas durante o verão de 1963 na Brokeback Mountain, no Wyoming (EUA). Apesar de ser verão, quando anoitece o frio bate forte e muitas vezes neva, já que a altitude é grande. A necessidade de calor é maior porque Aguirre havia proibido os dois de manterem fogueiras durante a noite para não chamar a atenção de ladrões de gado. É aí que começa uma grande afinidade entre os cowboys, que acabam vivendo um romance de verão. Apesar de os dois garantirem que não são gays.
Com o final do trabalho, Ennie, completamente abalado, volta para sua vida pacata e casa-se com Alma (Michelle Williams) e tem duas filhas. O não menos abalado Jack Twist segue sua carreira de cowboy de rodeios e conhece Lureen (Anne Hathaway, de “O diário da princesa”), com quem casa, mas não sem antes retornar ao trailer de Joe Aguirre e procurar por Ennie Del Mar.
Os dois tentam viver suas vidas normais, mas parece que alguma coisa falta a eles. É esse sentimento de ausência que Ang Lee explora bem, mostrando a necessidade que ambos têm em ficar um com o outro. E também mostra a dificuldade que era para a sociedade americana dos anos 60 e 70 em aceitar os gays.
O interessante na interpretação de Gyllenhaal e Ledger é que eles não dão aos personagens aquele jeito caricato que estamos acostumados a ver quando há papéis gays. É uma interpretação suave, em que não se nota trejeitos e acessos histéricos. Não é um homossexual afetado como o pirata Jack Sparrow (Johnny Depp), de “Os piratas do Caribe”. São dois homens que se apaixonaram um pelo outro, simplesmente. Só que Twist é um pouco mais promíscuo que Del Mar.
O Oscar deve coroar esse belo filme, que tem oito nominações, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Heath Ledger), Melhor Ator Coadjuvante (Jake Gyllenhaal), Melhor Atriz Coadjuvante (Michelle Williams), Melhor Diretor (Ang Lee) e Melhor Roteiro Adaptado (Larry McMurtry e Diana Ossana), com pelo menos umas quatro estatuetas. Acredito que o diretor e o ator coadjuvante têm mais chances. É um filme muito lindo, com uma história romântica bem engrenada. Diria até: IMPERDÍVEL.

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