segunda-feira, outubro 10, 2005

A casa da infância

Vi, outro dia, um poema em um ônibus que tratava da casa da infância. Era um poema do Sérgio Napp, bonito por sinal. E parei para pensar das casas em que morei quando era criança. A primeira foi no Morro Santa Teresa, um casebre no fundo do quintal do tio Zé, que é irmão da vó Lila. De lá não lembro nada, porque vive pouco mais de um ano. Logo em seguida, o pai foi para a única casa que a família teve em mais de 50 anos, a casa do bisavô José Machado, que fica na rua Damasco, no bairro Azenha. Pouca coisa tenho guardado na memória. Lembro de ter deixado cair um paralelepípedo no dedo indicador da mão direita, que por sinal é maior que o da mão esquerda. O tal paralelepípedo era parte integrante da nossa churrasqueira, que eu quis arredar para poder jogar bola com meu irmão Rodrigo. Também recordo quando a minha maninha nasceu e quiseram colocar brincos em sua orelha e ela chorou muito. A malvada era a tia Neíta, sua madrinha, que me deixou furioso por judiar da pequena Nilmara.
Logo em seguida, ainda naquele ano de 1972, nos mudamos para a Glória, uma linda casa de dois andares. A vó Lila, o vô Alfredo, a tia Neiva, o tio Renato, o dindo Zé Roberto e a tia Rejane moravam na parte superior e nós embaixo. As memórias são mais fortes nesse período. Os parreirais, as bananas, o bergamoteiro, o pé de café, a garagem, a tela que separava os pátios, o sofá de tijolos e espuma feito pelo pai, a cadela Rosita e seus filhotes, tudo me vem fácil à lembrança. Lembro de jogar fora o arroz de leite da vó Lila, que até hoje não gosto, de trocar os canais da tevê enquanto fazia companhia para o vô e ouvir suas reclamações, já que ele não podia se levantar da cadeira porque sofria de Mal de Parkinson. Também sonhava que voava tal qual a pipa que meu pai um dia fez e que sumiu nos céus, entre as nuvens. A ida para o Colégio da Glória, com minha madrinha, para freqüentar o Jardim de Infância. E no ano seguinte, 1974, quando o pai já procurava outra casa para morar, ia para a Escola Estadual Fernando Ferrari, no Cristal, acompanhado de uma namorado do dindo que se chamava Rosa. Também fiquei por um tempo, nesse ano, morando com uma colega da mãe, a Edite, que morava muito próxima ao colégio, sendo levado por uma de suas filhas, a Adriana, todos os dias à escola. Mas não gostava muito, sentia a falta de meus irmãos.
A casa no Cristal não aconteceu. Só depois que me casei que o pai foi morar naquela redondeza, quando casou com a Angela. Então fomos para a rua Domingos Crescêncio, no bairro Santana, quase ao lado da igreja São Francisco, a verdadeira casa da minha infância. Lá vivi de 1974 até 1983, dos 6 e uns quebrados aos 15 anos. Nove anos memoráveis, que daria um livro de tantas aventuras. Talvez um dia eu o escreva, quando tiver necessidade de rever o meu passado.

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