terça-feira, setembro 20, 2005

Um homem e uma prostituta

Ele caminhava à noite, por entre ruas e becos, em busca da paz desejada. Bebe com bêbados de botecos, ali na Bento Martins, conversa com porteiros e volta para o hotel, um hotel barato lá no fim da Rua da Praia. No caminho cruza com uma prostituta, que lhe sugere um programa por R$ 30,00. Ele topa. Convida-a para ir até o seu quarto.
— Como é o seu nome?
— Maria. Maria das Graças.
Ele tirou o chapéu e o casaco e sentou na cama. Ela já ia tirando a roupa e ele mandou-a parar.
— Não, Graça! Não tira a roupa, não.
— Ah! Já sei, você qué tirá a minha ropa prá dá mais tesão, né?
— Não é isso. Eu te quero vestida e deitada na cama. É só para ficar olhando e fazendo carinho em ti.
— Ué, nós não vamos transar, então?
— Não.
— E você vai me pagá mesmo assim?
— Vou.
— Então tá! Já tô deitando.
Ela deitou, depois de tirar os sapatos, e fitou aquele homem. Um moço ainda, pensou ela, não deve ter mais de 30 anos. A barba por fazer, um resto de cabelo a tapar a careca que começara a dominar-lhe a cabeça. Ele não era muito alto nem muito gordo, só estava "atirado". Então ele começou a fazer carícias nela. Pegou na mão, sentia a maciez da pele feminina, já não se lembrava da última vez em que tocara em uma mulher.
— Por que você tá chorando?
— Não é nada. Só lembranças — já enxugando as lágrimas com as costas da mão direita.
— É lembrança de alguém que você amava?
— Amo. Ela era minha namorada e me largou para casar com um cara muito rico. Já faz mais de 10 anos e eu ainda não me livrei desse amor idiota.
— Ai, não fala assim! Nenhum amor é idiota. Ela não era digna de ti. Desencana, passa para outra, você é um cara legal, é bonito, e é muito carinhoso. Não te martiriza!
— Ei! Você não tá mais falando daquele jeito todo errado! Por quê?
— É que eu sou ssim de noite. E como uma criatura da noite, eu tenho de parecer e agir como tal. De dia eu estudo, faço Comunicação na UFRGS. Esse era o único jeito de eu ganhar dinheiro, pagar aluguel, comprar livros e cuidar do meu bebê.
— Você tem um filho?
— É um menino, o Roger, tem dois anos. Minha mãe cuida dele de noite. Ela acha que eu sou garçonete. O pai dele eu conheci logo que cheguei aqui, numa festa lá em Ipanema. Ele tinha um fusca todo incrementado e me levou pro Morro do Osso. A gente fumou um baseado e tomou uns goles de uísque. Daí a gente transou, ele me largou em casa e nunca mais vi o cara.
— É, às vezes a gente acha que nós é que temos problemas. Só a gente que não é amado.
Ele se levanta, pega dois copos e tira de dentro do armário uma garrafa de vodca. Serve metade do copo para cada um.
— Vamos fazer um brinde? — sugeriu ela.
— Vamos. Um brinde ao amor: "Que seja infinito enquanto dure".
— Vinícius de Moraes.
— É — disse ele, balançando a cabeça.
Tomam num gole só. Ele paga a noite dela. Ela guarda o dinheiro e bota o sapato. E já vai saindo, porque tem muito para faturar ainda, quando, já na porta, pergunta:
— Vem cá, qual é o nome dela?
— Graça. Graça Maria.


Resolvi recuperar este texto porque não o tinha mais. Perdi muitos textos quando tive que formatar o computador. Sei que deveria ter cópias de segurança, mas não as tinha. Torno, assim, esta uma cópia de segurança on line.

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