domingo, fevereiro 13, 2005

Variação sobre o mesmo tema

O último texto tratava do início do ano e disse que faltavam dados e que iria completá-los depois. Como tinha o livro em casa resolvi copiar. A obra é “A Aventura das Línguas — Uma viagem através da História dos idiomas do mundo”, de Hans Joachim Störig, da Editora Melhoramentos. Nas páginas 92, 93 e 94 o livro traz: “O calendário faz parte da herança cultural geral e ao mesmo tempo da herança lingüística. Neste caso, nome e coisa se interpenetram, e por esse motivo dedicarei algumas frases a esse tema.
Nosso calendário deriva em suas linhas básicas dos romanos. Já o nome prova isto: Kalendae era o nome do primeiro dia de cada mês. A palavra vem de calare, ‘chamar, anunciar’. Por que se escrevia com k (e não com c) e por que está no plural, não se sabe. Determinava-se no primeiro dia de cada mês em que dia caía a metade do mesmo mês, ou seja, idus (palavra no plural de origem desconhecida, não-latina, provavelmente etrusca), ou, mais exatamente, em que dia caíam os nonae, o 9º dia antes dos ides. Que complicação! Na verdade, os romanos contávamos dias de trás para diante: falavam do ‘décimo sexto dia antes das calendas de agosto’, ou ‘do terceiro dia antes do ides de março’. A expressão idiomática etwas ad ‘kalendas graecas’ aufchieben (adiar algo até as calendas gregas) é usada até hoje.
Os nomes dos meses em alemão também permanecem latinos. As tentativas de germanizá-los, que começaram já com Carlos Magno, tiveram tão pouco êxito quanto a tentativa de impor os meses denominados pela Revolução Francesa (por exemplo, Brumário). Por que, porém, o nono mês do ano se chama Setember (setembro), o ‘sétimo’, o décimo mês Oktober (outubro), o ‘oitavo’, e assim por diante? Originalmente, o ano romano começava no dia 1º de março. Nesse dia eram empossados os novos cônsules eleitos. No ano 154 a. C. (naturalmente os romanos contavam os anos de maneira diferente, freqüentemente ad urbe condita, ou seja, ‘ a partir da fundação da cidade’, que a lenda diz ter sido no ano de 753 a. C.) ocorreu na província de Hispania um levante contra os romanos, e isto em dezembro. O Senado achou oportuno empossar logo os dois novos cônsules encarregados da repressão da revolta, que deveriam iniciar suas atividades no início do ano, ou seja, no dia 1º de março. Para que isso acontecesse mais rapidamente, decidiram que o ano (154 a. C.) deveria ter apenas dez meses. Desde então o Ano Novo é festejado no 1º de janeiro. É claro que demorou bastante até que o sistema fosse adotado em toda parte. O mês de setembro era, originariamente, procedido do Quintilis e do Sextilis (isto é, do quinto e do sexto mês); o primeiro foi denominado Julius, em honra a César, e o segundo recebeu maistarde o nome de Augustus, em honra ao imperador Augusto.
Até César, o ano romano tinha doze meses de 29 ou 31 dias (apenas fevereiro tinha 28) ao todo 355 dias — já que ele se orientava pela Lua — e cerca de dez dias e um quarto a menos que o verdadeiro ano solar. Por este motivo era necessário acrescentar a cada dois anos um mês de ligação de 22 ou 23 dias. A reforma, que César executou com o auxílio do matemático Alexandrino Sosígenes, deu aos meses sua duração atual — o que era dez dias a mais por ano. O quarto de dia remasnescente foi equiparado com o acréscimo de um dia a mais a cada quatro anos. Este ‘calendário juliano’ começou a ser utilizado depois que César, no ano 46 a. C., introduziu noventas dias intercalados. Essa foi uma decisão tão acertada, que o papa Gregório XIII precisou corrigi-lo apenas de uma forma mínima no ano de 1582, suprimindo dez dias para restabelecer a concordância com os dados astronômicos com os dados astronômicos: a cada quatro anos a mais, a exclusão do mesmo na virada do século, mas após quatrocentos anos um dia a mais, também assim, portanto, no ano 2000.
A semana de sete dias não é de origem romana, remontando provavelmente ao judaísmo, que comemora o sétimo dia como sabbath. Os nomes alemães dos dias da semana são traduções dos nomes correspondentes em latim tardio: Montag = dies lunaris, Dienstag = dies Martis (‘do deus da guerra, Marte’), Donnerstag = dies Iovis (‘de Júpiter’, substituído por Donar), Freitag = dies Veneris (‘de Vênus’, substituído por Freya). Criações puramente alemãs são Mittwoch (dies Mercurii) e Sonntag (dies dominicus, ‘Dia do Senhor’), respectivamente quarta-feira e domingo.
A semana de sete dias foi introduzida definitivamente por Constantino, o Grande; ela começava com o domingo. Na Alemanha, a semana passou a iniciar-se na segunda-feira apenas a partir de 1976, por força de uma norma DIN que começou a vigorar então”.
Como o autor é alemão dá para notar que há muitas expressões no idioma germânico. O livro tem outra coisas interessantes, como expressões latinas que se tornaram comuns no mundo todo. Talvez outro dia eu as reproduza. Este texto reproduzido aqui serviu para provar que professor também tem informações incorretas. Levei o livro para Roberto Pimentel, professor de português da Famecos, também conhecido com Tatata, para mostrar essa versão, diferente daquela que ele reproduziu na aula.

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